7/1/2021

Sobre desconfinar

Mesmo correndo o sério risco de ser impopular ou desmancha prazeres ou chata e invejosa, quero expressar a minha apreensão sobre a forma como o desconfinamento está a decorrer.

Na mesma semana em que tínhamos famílias apreensivas em colocar os seus filhos na creche, temos filas para chegar às praias. Os mesmos meninos que não vão à escola, brincam agora na areia a uma distância de segurança adequada, num espaço público, mas com gente. Eu acredito que a evolução das coisas é caminhar para o desconfinamento, mas temo bem que a esta onda de calor não tenha propriamente contribuído para o desconfinamento faseado.

E é suposto ser faseado, senão o esforço de todos foi em vão.

No Instagram acumulam-se imagens de pessoas em praias e piscinas um pouco por todo o lado. Contra mim falo, que levei os putos a praia deserta. Mas estava efectivamente deserta. Parece que toda a gente com o mínimo poder de compra se baldou para um turismo rural algures no Alentejo. São fotos atrás de fotos de influencers gostosas em bikinis giros. Ou mães daquelas mesmo giras com a sua prole em fatos de banho a fazer mix match. Eu percebo. E tenho uma certa inveja. Juro. Porque enquanto uns vestem bikinis, outros vestem fatos plastificados que são autênticas saunas ambulantes. Porque o coronavirus não foi embora. Para nós, a luta continua, ou esqueceram-se? Ainda está semana levei com o cotonete gigante no nariz, que me penteou os cabelos da nuca. É que o vírus é como aquelas tias chatas, que quando começamos a querer fazer a festa, só nos arranjam problemas.

Isto faz-me pensar naquela expressão: podemos andar à vontade, mas não à vontadinha.

E isto, no meu entender, é desconfinar à vontadinha.

Mas, pronto.
Desconfinemos então.

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